sábado, 26 de março de 2011

Episódio dois

                      O rapaz contou a sua história e insistiu dizendo que nenhuma das duas incomodava mas, percebia porque a rapariga teimava em dizer não, afinal de contas ele era um estranho. Ela não cedeu e ele acabou por respeitar saindo dali com a senhora pela mão.
                O caminho ainda era longo e a senhora estava frágil, não falava e as pernas custavam a mover-se, o frio tinha-se apoderado daquela pobre senhora; parecia querer dizer alguma coisa mas as horas que esteve sentada naquele banco de jardim fizeram com que isso se tornasse impossível.
                Chegaram finalmente à casa que ia passar a ser a casa dos dois. Acendeu a lareira e deixou a senhora sentada no sofá enquanto foi preparar algo para comerem. Quando voltou, a senhora parecia outra, as suas bochechas pálidas tinham-se transformado numas rosetas encarnadas; o frio tinha desaparecido, aquele aconchego e até mesmo o rapaz que conhecia acerca de três horas, transmitiam-lhe segurança.
                Ele, na esperança que a senhora já se sentisse capaz de falar, perguntou: “Sente-se bem?”; ela, ainda hesitou mas esforçou-se e conseguiu: “Obrigada por tudo, o menino foi um anjo que caiu do céu mas por favor, vá buscar a minha neta, ela não sabe o que diz. Ela…”. A senhora chorava, e o rapaz percebia que era tristeza mas sentia que algo mais se passava. “Continue por favor, o que se passa com a sua neta?”. Ela baixou a cabeça: “Ninguém sabe, ela não queria mas… ela não pode ficar naquele sitio, ela… tem uma doença”. O rapaz assustou-se, percebeu que a senhora não queria dizer mais nada mas sabia que não podia deixar a rapariga naquele sitio, ela precisava de ajuda tanto ou mais que avó e mesmo assim, não queria incomodar, que bom coração tinha aquela rapariga.
                “Não se preocupe, fique aqui, quentinha, eu volto com ela.” Disse o rapaz saindo de casa em direcção ao jardim. No banco do jardim não estava ninguém, ele ficou preocupado, pensando em mil e uma coisas que podiam ter acontecido àquela rapariga que era tão bonita. Ela avista-o ao longe e pensando o pior, corre em direcção a ele, “Que se passou? A minha avó?” , “Calma, respira. A tua avó está bem mas pediu que te viesse buscar e eu não saiu daqui sem te levar comigo.”, a rapariga baixa a cabeça e o tom preocupado transforma-se num tom triste: “ela contou-te não foi?”. Ele percebeu tamanha tristeza e apenas disse: “Ela ama-te tanto como amas a ela, agora vem, vem comigo para junto dela”.

(continua)

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