sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Secret Silence 9

               Ontem foi um dia complicado e comprido nem tempo tive para te vir contar uma coisinha que fosse; mas conto agora..


               Como te tinha dito, fui a casa do António e conversa atrás de conversa cheguei a casa já o sol nascia. Dormi duas horas e tive que ir para a escola, sim adormeci na aula de Português… a sorte foi que a Patrícia reparou e deu-me um encontrão antes do stor chegar até nós.


               Mais tarde, saí da escola com o António… o pai dele teve alta e fomos busca-lo de táxi; acabei por lanchar lá em casa e o pai dele agradeceu o facto de estar com o filho, pois desabafou que ele é muito reservado e quase nunca levava amigos lá a casa. Gostava de ter continuado esta conversa com o senhor Carlos mas o António chegou com o sumo e tivemos que nos calar.


               Voltei para casa e assim que me deitei na cama, adormeci logo… a minha mãe achou estranho mas acho que não desconfia de nada.


               Hoje o dia foi esquisito! O Ricardo passou toda a aula de Biologia a escrever-me papelinhos, perguntou se estava chateada com ele e o que é que se passava; cansei-me e apenas respondi: “Margarida”… ele fez-se de despercebido e disse que não sabia do que estava a falar, não lhe respondi mais. No intervalo puxou-me pelo braço e disse para lhe explicar, disse que não tinha percebido nada da história da Margarida; eu disse para ele pensar bem na Margarida que vive na minha rua e vim embora.


               O António é que voltou a estar estranho… passou o dia a mandar mensagens e quase não falou comigo… perguntei o que se passava, ele respondeu: “nada”, também não vou mais insistir!


               Agora quando estava a chegar a casa vi os pais do Ricardo a sair de casa da Margarida, juro que já não percebo nada! E o António mandou mensagem a dizer: “Gostava de falar contigo.” Espero que não seja nada de grave.


 Até mais logo. 



Mafalda
23 de Abril de 2011

4 comentários:

  1. António - Abril 24, 2011

    Ontem mandei mensagem à Mafalda, queria falar com ela, mas ela não conseguiu sair de casa..

    Hoje, o meu irmão, faria 30 anos se fosse vivo. Decidi ir ao sótão remexer nos baús, nas memórias, dores e saudades. É difícil.. ainda hoje choro ao falar nisto; nem mesmo a personagem fictícia aguenta com frieza a dor da perda. O meu irmão trabalhava na torre norte do WTC (World Trade Center) e morreu naquele maldito atentado. Sinto a mesma raiva que senti naquele dia 11 de Setembro, mas a dor é maior; o tempo, esse, não ajudou a tornar as coisas mais fáceis. Todas as noites choro, todas as noites ouço a voz do meu irmão, naquela última chamada que ele fez para mim.. "Olá puto! Sei que estás preocupado, mas não há razão, eu vou sair daqui.. sabes que sou forte." Não lhe consegui responder, chorava perdidamente, ele continuou "Quero que digas aos país que agradeço tudo o que eles fizeram por mim, eu não tenciono ir aí antes do Natal, por isso diz-lhes." Conseguia ouvir os gritos de horror, os pedidos de ajuda.. na minha cabeça sabia que o meu irmão iria morrer, mas fui incapaz de lhe dizer o que quer que fosse naquela chamada. Ele rematou antes de desligar "És o meu orgulho puto, adoro-te!" E acabou ali, as lágrimas escorriam-me pelo rosto.. e assim fiquei, durante horas, vendo na televisão, em directo, a morte do meu irmão.
    É um fantasma que vou carregar a vida inteira, não ter sido capaz de fazer nada.

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  2. António

    Sim é real! :( Temos a capacidade de projectar em personagens as nossas fantasias, sentimentos, temos o dom de lhes dar vida, de acordo com a nossa vontade. Mas nem sempre mantemos a máscara e com o tempo, a personagem somos nós com um nome diferente.

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  3. tens razão.. acredito que o que escreveste não é nem metade do que sentes; lamento imenso e muita força. Não te culpes, não podias mesmo fazer nada e tenho a certeza de onde quer que ele esteja continuas e continuarás a ser o seu orgulho. Coragem.

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